segunda-feira, julho 30, 2007
quarta-feira, julho 18, 2007
segunda-feira, julho 09, 2007
sexta-feira, julho 06, 2007
Profundidades
TRix - © Orlando de Carvalho
Museu Berardo de Arte Moderna e Contemporânea - Centro Cultural de Belém, 30 de Junho 2007
quinta-feira, julho 05, 2007
Línguas de Fogo
SILHUETAS
segunda-feira, julho 02, 2007
Helioburgos: Ao Sol...


«Tereza Arriaga
nasceu na freguesia de Belém*, em Lisboa, a 5 de Fevereiro de 1915, quase no fim do mandato do primeiro Presidente da República, seu avô. Educada num meio cultural privielgiado, o seu incoformismo cedo se revela em escolhas de vida e em consequente orientação para as artes. Inscreve-se na Escola de Belas-Artes de Lisboa, frequentando o Curso Superior de Pintura, num tempo em que eram raras as mulheres que abraçavam de um modo profissional a carreira artística. Tendo de interromper os estudos, em 1945, vai leccionar para uma escola da Marinha Grande, terra de tradiçoes vidreiras onde estava instalada a Fábrica Nacional de Vidros, mais tarde designada Fábrica-Escola Irmãos Stephens**».
Durante a sua estada, a par da actividade docente, onde desenvolve «experiências pedagógicas que vão no sentido de uma precursora prática educativa pela arte e de expressão artística», com os alunos, «ela própria desenha, criando esboços de firmes traços, representações mais ou menos acabadas mas sempre expressivas, daquelas crianças de corpos doídos, de olhar entristecido, de mãos calejadas e rostos queimados pela temperatura dos fornos. No decorrer desse ano reencontra o pintor Jorge de Oliveira com quem casaria», o qual se entregava então a uma abordagem visual de propósitos neo-realistas.
«É a expressão desses 'Catraios' da Marinha Grande que Tereza Arriaga mostra pela primeira vez no Ateneu Comercial do Porto, na 1ª Exposição da Primavera, em Junho de 1946. E logo no mês seguinte, na I Exposição Geral de Artes Plásticas, na SNBA, expõe 'Zé Clara', retrato de um dos "moços que parecem homens e nunca foram meninos"(1).»
É sobretudo após esta experiência que vai despertando em Tereza Arriaga uma
consciência social, vindo a participar em actividades de resistência ao regime
político, que a levam a passar 110 dias na prisão de Caxias.
«Os vários papéis sociais q assume - mulher, mãe e professora - vão criando óbvias limitações de disponibilidade na sua dedicação à pintura. No entanto, a necessidade de criação permanece em caminhos visíveis de uma inquietação q a informa».
«Em 1952, conclui o Curso Superior em Pintura que havia interrompido uns anos antes, com uma tese (pintura a óleo) denominada "Vidreiros", baseada nos múltiplos e interessantes estudos e esboços preparatórios realizados na Marinha Grande».
«Paralelamente a este trabalho final de temática assumidamente neo-realista, Tereza Arriaga envereda, embora sem grande extensão, por sínteses lineares e cores puras que apesar de terem algumas reminiscências daquelas experiênciuas operárias, rompem totalmente com o sentido figurativo, numa procura do puro geométrico e abstractizante».
Ao longo da sua carreira docente, foi professora em várias escolas, incluindo a António Arroio, até 1985.
«Desenhadora exímia, também impulsionada pela sua formação académica, nas décadas de 50 e 60 dedica-se essencialmente, seja por mote próprio ou por encomenda, ao Retrato».
«Em 1966 e 1967 participa nos cursos de gravura, da Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses, expondo nas respectivas Exposições de final de curso».
«É a partir de 1967, coincidindo com o atingir da maioridade do seu filho, q Tereza Arriaga inicia de um modo consistente e continuado uma nova fase da sua criação plástica».
«E se por outras razões, a pintora os distribui por três períodos, ao mesmo tempo afirma: "é tudo a mesma coisa". E q coisa é esta? Primordialmente é o ser. Um 'Ser - não ter' (2) de artista, consequente com o seu ser próprio de 'Pessoa' (2). Mais q um olhar q se reflecte nas telas, a pintura de Tereza Arriaga é a sua própria projecção, representação exterior do invisível. Na essência, a revelação de 'Personagem' (2) se a ponderarmos na sua etimologia latina: persona, pessoa».
Bioburgos - espaços de vida -, Helioburgos - espaços de sol-luz -, Bioélios - sol-vida -, são estes ostrês momentos-espaços. De uma ingenuidade inicial patente em lúdica aparência, como se fosse criança - com tudo o q isso tem de frecura e autenticidade - mas mostrando uma segurança experimental do fazer plástico, Tereza Arriaga logo
desvela a poética q acompanha toda esta sua obra. Brincando com os espaços, o
dentro e o fora, o fechado e o semi-aberto - pq nada é explícito, antes subtil, delicado, latente - o circular q conduz sempre a um outro lugar, pq
tudo são vasos comunicantes, rios q aproximam ou por vezes afastam, para logo voltar, ora diluindo-se, ora materializando-se nesse incessante movimento. Há portas e janelas, gargantas negras e canais luminosos, simbologia transportada de um real
habitado pelos seres abstractos q se condensam em cada entidade (pessoa-universo), em cada 'existência-inexistência' (2)».
«O mistério (2) dos elementos naturais, da terra, seus frutos e flores, da água, do fogo, do ar, explode matericamente em seiva (2), força onírica mas nunca fantasista, antes constituindo-se essência da própria natureza do mundo: ser em
sonho».

«Esta construção de mundos é ao mesmo tempo a procura de um ideal de perfeição, q elabora com desvelo, mesmo se trespassados com a sua inquietude interior. E neles, a plena transparência poética q integra num ser total, humano - nas cores, nas palavras, no respirar».
«Aos 92 anos, Tereza Arriaga permanece na urgência da criação, entre um desacertado mas absolutamente sincero, "ainda não fiz nada", pq o q a move é tudo aquilo q ainda lhe falta fazer - "quase tudo", num florecer incessante de vida, e desse almejo na visibilidade das suas telas, um crescente em termos de claridade lumínica: o bioélio».
«A sua obra está representada na colecção do Museu do Chiado, e em colecções institucionais e particulares, nacionais e estrangeiras».